Dream Valley recebe 35 mil pessoas e firma-se no calendário de festivais brasileiros
Confira fotos e review do evento realizado nos dias
16 e 17 de novembro, no parque Beto Carrero World
O feriado da república foi um marco para a música eletrônica
nacional: durante a semana passada, tivemos um overbooking de DJs
internacionais de peso no país - e boa parte disso foi graças ao Dream Valley, festival de música eletrônica produzido pela junção da RBS, da Green Valley e da Plus Talent. Com produção de primeira, o evento foi um sucesso absoluto, e nós estivemos lá e vamos contar a vocês em detalhes como foi.
O Dream Valley tinha um fardo pesado pra carregar: assinado pelo "Club #2 do Mundo"
e nascido já pra ser grande desde a primeira edição, tudo teria que
correr muito bem. Problemas com o Ibama nos dias que antecederam a festa
só aumentaram a expectativa do público quanto ao resultado final, e
infelizmente estas questões ambientalistas acabaram resultando em um dos
poucos pontos negativos de evento: a sua realização fora do Beto Carrero World,
no estacionamento do kartódromo do parque, acabou tirando toda a magia
do local escolhido para hospedar o festival. Com os brinquedos longe dos
palcos, pouca gente usufruiu deles e a festa acabou acontecendo como se
fosse em um centro de eventos qualquer. De qualquer forma, a estrutura
foi montada de forma impecável, possibilitando uma fácil circulação do
público entre todos os ambientes.
E já que estamos falando de estrutura, vale ressaltar que o palco principal foi uma das coisas mais impressionantes
do festival: com mais de 1000 metros quadrados de fachada, pode-se
dizer que é um dos maiores já montados no Brasil, e a decoração dele
(assinada por Antonio Carlos da Costa, cenógrafo da Beija-Flor) ficou
muito bonita, não devendo nada para festivais europeus. O telão também
foi muito bem trabalhado pelo VJ, com projeções contextualizadas com o
som que rolava, e muitas vezes bem sincronizado com ele. Ruim para o
palco alternativo: analisando isoladamente, ele era digno, porém ao
comparar com o principal, ele ficou pequeno e apagado. O line-up por lá
era de primeira, em próximas edições ele merece um destaque maior.
Descendo os palcos e indo para o dancefloor, vemos os poucos problemas que rolaram:
o número de banheiros insuficiente gerou esperas de até 30 minutos, a
ausência de sinal das operadoras de celular fez com que as maquinetas de
cartão de crédito parassem de funcionar, formando filas imensas nos
caixas, e o camarote sofria um pouco de interferência do Mystic Stage em
alguns momentos. Porém, coisas pequenas e aceitáveis para um "primeiro
evento" - espera-se que sejam vistos e corrigidos para outras edições.
Por outro lado, pudemos ver um bar bem estruturado, com atendentes bem humorados e eficientes. A variedade de bebidas era a normal, com duas novidades: o Smirnoff Ice personalizado do evento e os novos Red Bull com sabores
- cranberry, blueberry e lime. Os preços eram justos: R$ 5,00 na água,
R$ 6,00 na cerveja, R$ 12,00 no energético. Chega a ser engraçado ver
que o festival mais mainstream do país pratica preços menores que muita
rave por aí.
Seguranças bem treinados, aliados aos postos médicos bem posicionados
foram essenciais para o evento fechar com um número incrível: nenhuma ocorrência foi registrada,
e nenhum caso grave precisou ser atendido pelos médicos. Apesar de ser
uma festa mainstream, o público se comportou muito bem, e o clima era de alegria e amizade,
como em uma boa rave. O perfil de "ostentação" atribuido ao público da
Green Valley foi dificilmente notado, o que contribuiu muito para o
clima de celebração da festa.
Saindo do dancefloor e indo para fora da festa, mais um ponto positivo para a estrutura: apesar do grande público, os estacionamentos estavam bem organizados,
com filas menores do que as vistas em eventos de mesmo porte, como
Tribaltech e XXXperience. Os ambientes de bastidores também merecem
elogios: sala de imprensa com conforto, internet wifi, pontos de energia
e tudo o que repórteres e fotógrafos precisam para uma boa cobertura.
Destaque para o ambiente aonde foram feitas coletivas de imprensa
com os DJs: ele eliminou o "caos" em que os palcos ficam, facilitou o
nosso trabalho e deu privacidade aos DJs em seus camarins - esta é uma
prática que deveria ser copiada por todos os eventos de música
eletrônica do país.
Voltando aos palcos, hora de falar dos artistas. Os 41 DJs e
produtores do line-up estavam divididos entre os dois palcos de acordo
com a sua linha de som: mainstream no Dream Stage e underground no
Mystic Stage. Devido ao público da Green Valley ser muito mais ligado
aos artistas pop e ao preconceito que algumas pessoas alimentam contra o
superclub, o palco alternativo ficou mais vazio que o principal durante
toda a festa, com cerca de 10% do público. Uma pena, já que tivemos
apresentações memoráveis nele, como os sets de Magda e Dixon e os lives de Gui Boratto e Robert Babicz. Outro que se destacou por lá foi Al Doyle, do Hot Chip, que fez jus à fama do projeto e mostrou que sabe ler a pista e levar qualquer multidão ao delírio.
Do outro lado da festa, muitas surpresas - e uma delas negativa, que
você com certeza já ficou sabendo por intermédio do Facebook: o DJ set falhadíssimo do Justice.
O que aconteceu foi tão impressionante que fica até difícil de explicar
para quem não estava lá, muitos dizem que o público não compreendeu ou
era "burro demais" para o som, mas isso não é verdade. Das bocas de
pessoas que conhecem a história do Justice e viram suas apresentações no
Skol Beats 2008 e Sónar SP 2012: foi um dos piores sets da vida deles.
Provavelmente jamais saberemos a razão, mas o duo francês estava no DV
com uma imensa má vontade, e descontou sua raiva no público. As atitudes
estranhas já eram notadas antes mesmo do set começar, pois durante a
coletiva de imprensa eles não esconderam o mau humor e distribuiram
coices nos repórteres presentes. Na hora de tocar, um som desconexo que
perdurou os 90 minutos de apresentação, mostrando que não houve qualquer
leitura de pista. O público ainda se esforçou para gostar, pois apesar
do set ter sido horrível como um todo, só depois de 1 hora que as
primeiras vaias surgiram, graças a um momento em que eles retornaram 4
vezes na mesma virada, demonstrando que realmente estavam pouco se
importando com a reação das mais de 15 mil pessoas à frente deles. É
fato que o contexto no qual foram inseridos era péssimo: tocar um som
conceitual depois de Zedd e antes de David Guetta não seria fácil, mas
um bom DJ conseguiria fazê-lo.
Pois bem, saindo deste momento infeliz e indo para as surpresas positivas, talvez a maior foi Steve Aoki:
apesar de ter feito todas as costumeiras palhaçadas (champagne, bolo,
bote), o seu som foi mais centrado e sério. Não sabemos se ele está
mudando a linha ou foi a responsabilidade de tocar depois do #1 do
mundo, mas o fato é que ele tocou um electro mais pesado e dançante. E
falando no holandês, Armin van Buuren foi o nome da festa, e mostrou porque sempre está no topo desta lista há anos. Ele assumiu a pista depois de um Calvin Harris
bipolar, que alternava entre tracks pesadas recheadas de acid e hits de
rádio como Feel So Close e We Found Love, mas não se intimidou: abriu
sampleando deadmau5 e usou a primeira hora inteira do seu set só no
trabalho de criar a atmosfera perfeita para seu trabalho. Saiu dos 128
bpm e chegou nos 145 bpm com tanta sutileza que o público acompanhou a
aceleração e nem mesmo uma chuva forte de 15 minutos conseguiu tirar as
pessoas do meio da pista.
No segundo dia, apesar de David Guetta ter lotado a
pista, até mesmo o público dele já está começando a se cansar: o
comentário geral foi que ele deixou a desejar, e a noite foi "salva"
pelos excelentes sets de Zedd e Hardwell,
que apesar de tocarem um big room bem comercial, o fazem com mais
seriedade e menos cantores pop americanos. Uma observação particular de
quem esteve no Creamfields BA uma semana antes: o set de Guetta foi
religiosamente igual nos dois eventos. Mesmo tracklist, mesmos pontos de
passada, tudo. Se é dead act ou não, deixo para vocês refletirem.
No fim das contas, o Dream Valley foi um evento muito positivo para a
cena eletrônica brasileira. Apesar dos deslizes aqui citados, no geral o
festival foi muito bem executado e deve ser ainda melhor e atrair ainda
mais gente na próxima edição, que já foi garantida pela organização.
Confira neste link a cobertura fotográfica completa, com mais de 200 fotos.
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